Datas devem dar baque de meio bilhão no comércio, mas há quem lucre

Os comerciantes da Bahia terão que ‘se virar nos 30’ depois da projeção de que em 2018 o faturamento será R$ 465 milhões menor para a categoria por conta da quantidade de feriadões. Estratégias já estão sendo desenvolvidas para aumentar as vendas – e o consumidor é quem pode acabar sendo beneficiado com um ano farto de promoções.

A projeção é da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA). De acordo com a entidade, a quantidade de feriadões de 2018 influenciará negativamente no faturamento de comerciantes varejistas do estado, que deixarão de ganhar quase meio bilhão durante os períodos. O valor corresponde a 0,7% de todo o varejo da Bahia.

Ao todo, serão 15 dias de feriados “oficiais” este ano – e 9 possíveis feriadões, contra apenas quatro feriadões em 2017.

Para reagir ao número, as lojas já planejam ações para atrair o consumidor e, consequentemente, aumentar as vendas. Três estratégias já estão sendo utilizadas para estimular as lojas de rua: mais promoções, estímulo para que lojas abram durante os 16 dias de feriado, além da manutenção do auxílio de R$ 42,92 para lojistas que trabalharem nesses dias. A orientação é do Sindicato dos Lojistas (Sindlojas), que acredita que com as ações o impacto pode ser menor.

“Não sabemos exatamente em quanto por cento a implantação dessa estratégia irá impactar, mas acredito que, com essas ações, a tendência é que o número não seja tão acentuado assim”, disse Paulo Motta, presidente do Sindlojas.

Dias a menos
A Fecomércio-BA explica que a expectativa de crescimento nas vendas do varejo é o motivo pelo qual as perdas irão aumentar este ano. “Cada dia com redução do ritmo de vendas prejudica o comércio, sobretudo neste momento de saída da crise”, diz o presidente da instituição, Carlos Andrade. Ele explica ainda que os meses costumam ter entre 24 e 25 dias úteis e que, com dois dias de feriado mensais, são 10% a menos no faturamento do comércio. “A saída é se reinventar a cada dia. Quem não se reinventar não sobrevive”, disse.

Andrade explica que a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) atua nas câmaras e assembleias legislativas para tentar reduzir o número de feriados no ano. “Um país pobre precisa dar emprego. Nós não queremos dar apenas o emprego, e sim o trabalho”, disse.

Setores
O setor que deve apresentar maior perda potencial, em termos absolutos, é o supermercadista, com R$ 262 milhões, R$ 12 milhões a mais que em 2017. Na sequência vêm as lojas de vestuário, tecidos e calçados, com R$ 70,6 milhões, praticamente o mesmo montante do ano de 2017.

As ‘outras atividades’ compostas por comércio de livros, jornais e revistas, equipamento para escritório, informática e comunicação, combustível e lubrificantes, dentre outros artigos de uso pessoal, devem registrar perda de R$ 57 milhões, 1,5% superior ao valor do ano passado. As farmácias e perfumarias devem deixar de faturar R$ 53 milhões, um aumento de 10% na comparação anual.

Por fim, as lojas de móveis e decoração devem registrar a maior variação entre 2017 e 2018, de 13,5%. O setor deve deixar de faturar R$ 22,5 milhões, a menor quantia entre as atividades analisadas.

A orientação para associados é a realização de promoções nas lojas. Descontos, saldões e bonificações são algumas das estratégias sugeridas pela Federação. “Além de treinamentos para funcionários. Eles devem estar preparados para tratar muito bem o cliente a qualquer momento”, disse.

O economista Waldemar Hazoff conta que o varejo sofre nos feriados por conta dos deslocamentos realizados pelos consumidores. “Alguns locais sofrem prejuízos e outros recebem mais pessoas. O dinheiro vai para algum lugar. Mas o varejo sofre quando você pensa em cada empresário. A venda de refeições, por exemplo, pode diminuir de 20% a 50% e isso pode deixar de ser um ‘deixar de ganhar’ e representar até mesmo um prejuízo para o comerciante”, explicou.

Para o varejo, a condição é pior, de acordo com Hazoff, porque existem despesas fixas que, por conta do faturamento pequeno, acabam comprometendo os ganhos. “O varejo tem o aluguel, tem a mão de obra cara, tem luz, água. Diversos custos fixos que acabam comprometendo o faturamento no final do mês”, disse. De acordo com ele, micro e pequenos empresários são os mais impactados por não terem “gordura” para gastar.

Prejuízo maior e Copa
A pesquisa realizada pela Fecomércio não levou em consideração os dias da Copa do Mundo nem os das eleições, que serão realizadas neste ano. Dessa forma, o prejuízo para o varejo baiano pode ser ainda maior.

“Alguns jogos do Brasil na Copa do Mundo ocorrerão em dias úteis, mas também não foi levado em consideração no estudo porque há políticas diferentes entre as empresas para esses dias”, diz a nota da Fecomércio.

Caso a Seleção Brasileira vá para a final da Copa do Mundo, cinco dias de pontos facultativos poderão ser adicionados ao calendário de feriados, caso os lojistas decidam fechar e liberar os funcionários.

Tem quem lucre com os feriados
Ao contrário da retração que as lojas de rua esperam durante os feriados, os shoppings da Bahia não estimam um encolhimento nas vendas nesses períodos. É o que conta o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Edson Piaggio.

“Durante o feriado, as pessoas vão aos shoppings. Além das pessoas que se deslocam do interior para a capital com destino aos shoppings”, conta.

De acordo com Piaggio, o shopping em Salvador é o terceiro destino do cidadão soteropolitano. Em locais sem praia, como São Paulo, chega a ser primeiro ou segundo, conta ele. Mesmo sem a perspectiva de retração, o presidente disse que as lojas podem fazer, individualmente, promoções em meses que o faturamento estiver pequeno. Os empresários de combustíveis também não se preocupam tanto com os feriados.

O presidente do Sindicato do Comércio de Combustíveis, Energias Alternativas e Lojas de Conveniências do Estado da Bahia (Sindicombustíveis), José Augusto Costa, conta que o prejuízo pode até vir para os donos de postos da capital, mas que os das estradas acabam ganhando. “Imagine o volume de vendas que os postos do Litoral Norte e da BR-324 ganham durante esse período. Alguns perdem, mas outros ganham. E essas viagens de carro acabam movimentando os postos do interior do estado”, disse o presidente, que afirma que 2018 é um ano de retomada de crescimento e espera um aumento nas vendas superior ao alcançado em 2015.

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Confira o calendário completo de feriados em 2018:

  1. 1º de janeiro – Confraternização Universal (segunda-feira)
  2. 12 de fevereiro – Carnaval (segunda-feira)
  3. 13 de fevereiro – Carnaval (terça-feira)
  4. 14 de fevereiro – Quarta-Feira de Cinzas
  5. 30 de março – Paixão de Cristo (sexta-feira)
  6. 21 de abril – Tiradentes (sábado)
  7. 1º de maio – Dia Mundial do Trabalho (terça-feira)
  8. 31 de maio – Corpus Christi (quinta-feira)
  9. 2 de Julho – Independência da Bahia (segunda-feira)
  10. 7 de setembro – Independência do Brasil (sexta-feira)
  11. 12 de outubro – Nossa Senhora Aparecida (sexta-feira)
  12. 2 de novembro – Finados (sexta-feira)
  13. 15 de novembro – Proclamação da República (quarta-feira)
  14. 8 de dezembro – Nossa Senhora da Conceição (feriado em Salvador, sábado)
  15. 25 de dezembro – Natal (terça-feira)