Henrique Meirelles, candidato à Presidência pelo MDB, aposta ganhar musculatura na corrida eleitoral como o “senhor estabilidade”, o único a ostentar no currículo a superação de duas crises econômicas no País. Se chegar lá, promete descriminalizar o consumo da erva

Na história recente do País, o remédio mais eficaz contra as crises econômicas não foi encontrado nas prateleiras das farmácias, mas nas gôndolas da família Campos Meirelles, natural de Anápolis (GO). Atende pelo nome de Henrique Meirelles e não há genéricos capazes de substituí-lo à altura. Exagero ou não, é dessa maneira que o ex-presidente do Banco Central do governo Lula e ex-ministro da Fazenda de Michel Temer pretende se apresentar na campanha eleitoral. Ele está convicto de que sua experiência como gestor que resgatou o País do buraco por duas vezes poderá recolocar o Brasil no rumo do desenvolvimento, com mais empregos e investimentos na educação e na segurança. Nesse particular, aliás, Meirelles, de 72 anos, diz que o Brasil vive uma “guerra interna”. Para contê-la, de acordo com ele, serão necessários grandes aportes em policiamento, especialmente nas fronteiras, como forma de impedir a entrada de armas e drogas. Ele considera imprescindível também um esmero na tentativa de retirar os jovens das ruas, os quais, por falta de escola e trabalho, “ficam suscetíveis ao aliciamento do crime organizado”.

Ainda na entrevista de quase duas horas ao corpo de editores da Três, o ex-presidente do BankBoston, onde fez fortuna, disse que pretende usar os bancos públicos para reduzir as escorchantes taxas de juros e prometeu trabalhar para a queda do spread bancário, admitindo, até mesmo, taxar grandes fortunas, como forma de reduzir a desigualdade social. Para Meirelles, no entanto, é indispensável reduzir os gastos públicos, com a efetivação da reforma da Previdência.

A sua candidatura é vista com ceticismo no meio político. Até o próprio MDB impõe resistências por causa da piora da economia. Como superar esses obstáculos?

Temos mensagens muito importantes para o MDB e para o País. A primeira delas é que a razão mais importante pela qual a economia perdeu um pouco de ritmo está justamente no fato de que existem candidatos à esquerda e à direita com propostas radicais que, se aplicadas, conduzirão o Brasil de volta à recessão e ao desemprego. Bolsonaro, pela direita, e Ciro, pela esquerda, trarão instabilidade ao País. Nesse clima, os consumidores adotam certa cautela na hora de comprar, por exemplo, um fogão ou uma geladeira financiados. Os investidores também diminuem as compras de máquinas e equipamentos.

O senhor chegou a dizer que não era o candidato de Temer e este, por sua vez, respondeu que assim o senhor não seria o candidato do MDB. O senhor foi enquadrado pelo presidente?

Em nenhum momento disse algumas das coisas que foram reportadas. Em primeiro lugar, espero que Temer vote em mim. Sou candidato do MDB e coloco meu nome na convenção do partido, que tem um papel histórico na redemocratização do País. O MDB tem presença em todas as cidades brasileiras, com 3.700 diretórios em todos os estados. Além do fato de que sou o candidato do emprego, da renda, do crescimento e da inflação controlada.

O senhor vai defender o governo Temer na campanha?

Vou defender as realizações desse governo. Defenderei o teto de gastos, a reforma trabalhista, a governança das estatais, a política econômica, a reforma do ensino médio, assim como todas as profundas mudanças feitas por esse governo.

No programa Roda Viva, o senhor admitiu que poderia abrir mão de sua candidatura para permitir a unificação do centro. O senhor faria isso por alguém do PSDB?

Eu me referia à possibilidade de convergências. A candidatura é à Presidência da República e não haverá a possibilidade de aceitarmos a posição de vice na chapa. Temos uma história para mostrar com resultados concretos. Se o eleitor quer um candidato que tenha competência e experiência, temos o que mostrar. Quem quiser um candidato que traga estabilidade e um melhor padrão de vida à população, há resultados para mostrar e projetos para garantir isso. Se o eleitor quiser um candidato com integridade pessoal, meu histórico é inquestionável. Por isso estamos sólidos e fortes. Eu disse que há um processo normal onde os eleitores é que vão decidir como será a convergência. Tenho certeza de que isso será em torno do meu nome e do MDB. E no segundo turno, sim, poderemos fazer composições.

O senhor tem falado que a qualidade de vida é um dos legados que o senhor deixa no Ministério da Fazenda, mas o desemprego ainda incomoda o brasileiro. Que propostas o senhor tem para a retomada do emprego?

É um problema gravíssimo.Temos que respeitar a situação do desempregado. Sou solidário e me preocupo. A solução é criar empregos. Para isso é importante registrar que milhões de empregos foram destruídos no governo Dilma. Portanto, sabemos das políticas que não funcionam. Também sabemos que dois milhões de empregos foram criados no Brasil após o início da saída da recessão. Ainda é pouco, em função dos 14 milhões de desempregados. A solução é continuar criando empregos, como ocorreu de janeiro a abril, quando surgiram mais de 200 mil postos no país.

O senhor disse que conseguirá fazer a reforma da Previdência por que será eleito e terá respaldo da população. O senhor quer dizer com isso que o Temer não aprovou a reforma por não ter sido eleito e não ter respaldo popular?

Esse governo fez muito em apenas dois anos, se levarmos em conta que Temer ficou quatro meses como interino. Portanto, em um período muito curto em que é governo definitivo foram realizadas reformas importantes. Uma reforma na Previdência é algo controverso em qualquer lugar do mundo. Na Alemanha foi gerada uma controvérsia que durou anos. É normal. Portanto, tenho confiança que, com a eleição, um presidente eleito, o fim da intervenção do Rio, será possível votar a emenda e ela será aprovada.

O senhor defende a privatização da Petrobras?

Acho que é preciso aumentar o capital privado na Petrobras. A empresa precisa ser capitalizada cada vez mais, principalmente por capital captado na bolsa de valores, e precisamos nos assegurar de sua boa administração mediante mecanismos institucionais de mercado.

Além da economia, temos outros problemas. Um deles é a segurança pública. O que o senhor faria para lidar com a violência no Brasil?

Precisamos ter policiais. Existem polícias estaduais que estão com efetivos muito menores do que tinham, por problemas da recessão. Em alguns lugares há anos não se faz concurso para a polícia. Com o crescimento econômico, poderemos abrir uma linha de ação federal nesse sentido. Depois é equipamento. É lamentável ver fotos de equipamentos sucateados, parados em garagens. Temos que reequipar as polícias.

O senhor disse que vivemos guerra interna. Por que então não investimos nas questões de segurança?

A minha proposta é investir, com a arrecadação aumentando, na assistência direta aos estados.

Qual é o seu projeto para a educação?

Temos que enfrentar a realidade. Temos que restaurar as finanças dos municípios, pois 67% das crianças estudam nas escolas municipais. Grande parte do ensino médio é dos governos estaduais, que precisam ter condições de financiar sua parte. O governo federal se concentra nas universidades públicas e no ensino técnico. Essa é a estrutura, que não pode ser mudada do dia para a noite. O que deve ser discutido é uma divisão maior de recursos e responsabilidades.

No passado tivemos uma contribuição obrigatória para sustentar a Saúde, que foi a CPMF, mas os problemas não foram resolvidos. O senhor criaria novo impostos para financiar o sistema?

Saúde é cada vez mais cara. Precisamos cada vez de mais recursos, mas também melhor gestão, como a informatização de todos os hospitais, das pequenas unidades poderem usar a escala e os recursos dos grandes hospitais. Isso já foi feito em outros países e temos experiências em andamento no Brasil. Temos que aumentar o atendimento em rede e aumentar os recursos.

O senhor taxaria ganhos de capital para reduzir a desigualdade?

Sim. Já fizemos essa proposta através da taxação dos fundos exclusivos. Hoje existe uma grande injustiça. Qualquer pequeno investidor que aplique em um fundo de ações ou em títulos, por exemplo, paga imposto sobre a avaliação do patrimônio do fundo. Os fundos exclusivos dos grandes investidores só vão pagar quando forem resgatados. O ganho é enorme.

E as grandes fortunas?

Acho que todos, incluindo grandes fortunas, devem pagar impostos justos. Acredito fortemente que temos que revisar toda essa questão por meio de uma reforma tributária. Só que não podemos criar um sistema que penalize o crescimento. A economia tem que funcionar. O Brasil enfrenta uma competição duríssima para a atração de capitais para investimentos produtivos, por causa da menor tributação de outros países.

O senhor veio do sistema bancário e sabe que os bancos no Brasil atuam como oligopólios. O que o senhor faria para reduzir o spread bancário, que no Brasil é absurdamente alto?

Temos que incentivar a competição. Presidi uma instituição no exterior com presença em 32 países onde a taxa de juros e o spread eram muito mais baixos que no Brasil. E os resultados foram excelentes, inclusive em países com spread muito baixo, como nos Estados Unidos. A partir dos projetos que vamos aprovar, os bancos públicos poderão entrar fortemente na competição. Temos um sistema concentrado, mas também temos dois bancos públicos enormes.

O senhor é a favor da mudança na maioridade penal?

Não resolve nada. Superlotaremos as prisões brasileiras. A questão da criminalidade adolescente é um problema sério. Temos de dar condições para que os jovens não entrem no crime, dando-lhes escola e emprego.

E a descriminalização das drogas?

Acho que a maconha é uma questão de direito individual. Não devemos penalizar e criminalizar o consumidor. Principalmente se for para uso medicinal. Maconha eu liberaria, mas dentro de algumas restrições, com controle rígido, como outros países fazem. Ainda mais depois que as pesquisas apontaram que não causa danos permanentes. Cocaína sim. Tem que ser criminalizada.

Participaram da sabatina os jornalistas: Camila Srougi, Celso Masson, Germano Oliveira, Luis Artur Nogueira, Mário Simas Filho, Ralphe Manzoni Jr e Sérgio Pardellas

Veja a opinião do pré-candidato sobre programas sociais

 

Leia a íntegra da entrevista com Henrique Meirelles

A sua candidatura é vista com ceticismo no meio político. Até o próprio MDB impõe resistências por causa da piora da economia. Como superar esse obstáculo, uma vez que seu nome ainda precisa ser aprovado em convenção?

Temos mensagens muito importantes para o MDB e para o País. A primeira delas é que a razão mais importante pela qual a economia perdeu um pouco de ritmo está justamente no fato de que existem candidatos, à esquerda e à direita, com propostas radicais que, se aplicadas, conduzirão o Brasil de volta à recessão. Bolsonaro, à direita, e Ciro, à esquerda, trarão instabilidade ao País. Os consumidores adotam certa cautela na hora de comprar, por exemplo, um fogão ou uma geladeira financiados. Os investidores também diminuem as compras de máquinas e equipamentos. Isso quebra o ritmo de expansão. Só que a economia continua crescendo. As previsões eram de 3% no início do ano. Agora estão entre 1,5% e 2%. Isso é resultado de alguns fatores, sendo o mais importante as propostas de alguns candidatos que já levaram o país à recessão e ao desemprego.

Uma pesquisa do Datafolha mostra que a reprovação do governo Temer atinge 82%. Como o senhor é visto como o candidato do presidente, não teme que de alguma forma isso interfira no seu desempenho junto ao eleitorado?

O ponto mais importante é o trabalho que fizemos no Ministério da Fazenda levou a um crescimento da renda, do emprego e à diminuição da inflação. A primeira mensagem é levar essas informações aos eleitores. Em segundo lugar, contar minha história no Banco Central, por oito anos, e na iniciativa privada, antes disso, mostrando que minha candidatura trouxe resultados concretos à população. De acordo com as pesquisa qualitativas que fizemos, no momento que esses dados estiverem divulgados a intenção de voto sobre fundamentalmente. Neste momento não há muito como divulgar por causa da legislação eleitoral, mas quando a campanha for aberta, com a programação na TV, vamos mostrar a realidade e, assim, teremos condições de vencer as eleições.

Há pouco mais de uma semana o senhor chegou a dizer que não era o candidato de Temer. Este, por sua vez, respondeu que assim o senhor não seria o candidato do MDB. O senhor foi enquadrado pelo presidente?

Em nenhum momento disse algumas das coisas que foram reportadas. Em primeiro lugar, espero que Temer vote em mim, assim como espero o mesmo de vocês. Sou candidato do MDB e coloco meu nome na convenção do partido, que tem um papel histórico na redemocratização do País. O MDB tem presença em todos as cidades brasileiras, com 3.700 diretórios em todos os estados. Além do fato de que sou o candidato do emprego, da renda, do crescimento e da inflação controlada.

O senhor é o candidato de Temer?

Eu espero que ele vote em mim. Só não sou o candidato.