Moradores ouvidos pela reportagem acreditam que dinheiro deveria trazer melhorias
A receita de uma cidade provém dos impostos e taxas obrigatórias que a população paga como, por exemplo, o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). Por sua vez, esse valor deve ser usado em melhorias e benefícios para o município e comunidade. Pelo menos, é o que deveria acontecer. Mas, na prática, a realidade pode ser diferente.
O aposentado José, morador do Parque dos Coqueiros, reclama da falta de retorno pelo valor pago no IPTU. “Não estou satisfeito, pois não temos um retorno positivo desse dinheiro, em melhorias no bairro ou cidade”, diz. “Por aqui é muita sujeira, mato alto e problemas com essa quadra abandonada, problemas com as calçadas ou mesmo a falta delas”, aponta.
Seu José teve derrame e, por isso, tem sequelas no lado esquerdo do corpo. “Os problemas de buracos nas ruas dificultam a minha locomoção. Tanto que já cheguei a cair”, conta. “Por isso, acho que o dinheiro do IPTU é mal pago. Se o valor fosse aplicado em melhorias para a população pagaria com gosto”, reforça.
Buracos
O empresário Marquinhos Cacique, compartilha da opinião de José. “O valor pago pelo IPTU é muito alto pelo retorno que a população tem através dos serviços e infraestrutura”, comenta.
Marquinhos afirma que já perdeu pneus, amassou uma roda e perdeu as contas de quantas vezes precisou alinhar e balancear seu veículo devido aos buracos nas vias de Coração de Maria. “Nesses últimos dois anos, nem estimo os prejuízos com cuidados com o carro”, diz.
Segundo ele, as crateras nas ruas como as encontradas nas ruas das cidades, nos bairros periféricos nem calcamentos as vezes tem, fora o lixo e o mato, que são normais e presentes por todo município, até mesmo nas ruas do centro da cidade. “O IPTU não é barato para ter a cidade nessas condições, abandonada”, frisa. “Coração de Maria está lotada de buracos. A melhoria que temos direito, não vemos”, reforça.
Cobrança
Carnês de IPTU foram distribuídos pela Prefeitura Municipal para a cobrança neste ano. Para 2018, não se tem um número estimado de carnês a serem distribuídos.
Falta de retorno desagrada
De acordo com um advogado, a grande reclamação por parte da população quanto ao pagamento do IPTU é por não sentir que o dinheiro pago em tributos retorna em forma de serviço e benefícios de qualidade. “Desta forma, o contribuinte vê o imposto como gasto e não como investimento. O que é totalmente justificável, já que não há o retorno”, comenta.
“Mas, na teoria, o destino da receita é melhorar a qualidade dos serviços e infraestrutura para a população”, completa. O advogado reforça que o descontentamento do contribuinte no pagamento de tributos decorre da falta de prestação de um serviço público de qualidade. “Com graves falhas de gestão administrativa e casos de corrupção com o dinheiro público”, diz.
IPTU não tem destinação específica
Segundo ele, o IPTU é uma fonte de arrecadação de recursos próprios dos municípios. “E sua utilização não está vinculada a uma área específica de atuação do Poder Público”, explica.
Por isso que, por mais que o contribuinte pague o imposto sobre seu imóvel, o recurso não é necessariamente utilizado em sua rua ou bairro.
“O IPTU é um tipo de tributo que não tem contraprestação específica”, afirma. “É uma forma de arrecadação do Estado para a manutenção dos serviços, da estrutura estatal e eventuais investimentos. E pode ser usado, por exemplo, para o pagamento da folha salarial dos servidores”, reforça.
O advogado ressalta que o que o contribuinte deve entender é que a receita do IPTU não possui nenhum vínculo legal. “Não precisa, obrigatoriamente, ter uma destinação específica. A Prefeitura irá aplicar o dinheiro onde achar necessário, é uma questão de política pública. Mas, deve ser revertido em melhorias para a cidade”, conclui.
Análise: ‘Dinheiro público é de todos’
O fato das prefeituras não usarem o dinheiro do IPTU no que deveriam é uma questão de política pública e de um sistema viciado, devido aos inúmeros casos de corrupção e mau uso do dinheiro público.
Por muito tempo tinha-se a ideia errada de que o dinheiro público não era de ninguém. Pelo contrário, é de todo mundo e deve ser usado em favorecimento da cidade e do contribuinte. Porém, vai demorar muito para mudar essa mentalidade. Até porque, quem assumir agora vai pegar a Prefeitura quebrada, cheia de dívidas. Mas, o grande erro é pensarmos em curto prazo. A visão deve ser em longo prazo, de no mínimo uma geração, pois é preciso mudar a mentalidade e desintoxicar todo o sistema. Só assim teremos as melhorias e o bom uso dessa receita, como deve ser.